sexta-feira, 31 de maio de 2013

"EM ORAÇÃO"

 

"Na véspera da partida do Senhor, no rumo de Sídon, o culto do Evangelho, na residência
 de Pedro, revestiu-se de justificável melancolia. As atividades do estudo edificante prosseguiriam,
 mas o trabalho da revelação, de algum modo, experimentaria interrupção natural.
 A leitura de comoventes páginas de Isaías foi levada a efeito por Mateus, com visível
 emotividade; entretanto, nessa noite de despedidas ninguém formulou qualquer indagação.
 Intraduzível expectativa pairava no semblante de todos.
 O Mestre, por si, absteve-se de qualquer comentário, mas, ao término da reunião, levantou
 os olhos lúcidos para o Céu e suplicou fervorosamente:
— Pai, acende a Tua Divina Luz em torno de todos aqueles que Te olvidaram a bênção,
 nas sombras da caminhada terrestre.
 Ampara os que se esqueceram de repartir o pão que lhes sobra na mesa farta.
 Ajuda aos que não se envergonham de ostentar felicidade, ao lado da miséria e do infortúnio.
 Socorre os que se não lembram de agradecer aos benfeitores.
 Compadece-te daqueles que dormiram nos pesadelos do vício, transmitindo herança dolorosa
 aos que iniciam a jornada humana.
 Levanta os que olvidaram a obrigação de serviço ao próximo.
 Apiada-te do sábio que ocultou a inteligência entre as quatro paredes do paraíso doméstico.
 Desperta os que sonham com o domínio do mundo, desconhecendo que a existência na
 carne é simples minuto entre o berço e o túmulo, à frente da Eternidade.
 Ergue os que caíram vencidos pelo excesso de conforto material.
 Corrige os que espalharam a tristeza e o pessimismo entre os semelhantes.
 Perdoa aos que recusaram a oportunidade de pacificação e marcham disseminando a revolta
 e a indisciplina.
 Intervém a favor de todos os que se acreditam detentores de fantasioso poder e supõem
 loucamente absorver-te o juízo, condenando os próprios irmãos.
 Acorda as almas distraídas que envenenam o caminho dos outros com a agressão espiritual
 dos gestos intempestivos.
 Estende paternas mãos a todos os que olvidaram a sentença de morte renovadora da vida
 que a tua lei lhes gravou no corpo precário.
 Esclarece os que se perderam nas trevas do ódio e da vingança, da ambição transviada e
 da impiedade fria, que se acreditam poderosos e livres, quando não passam de escravos, dignos
 de compaixão, diante de teus sublimes desígnios.
 Eles todos, Pai, são delinqüentes que escapam aos tribunais da Terra, mas estão assinalados
 por Tua Justiça Soberana e Perfeita, por delitos de esquecimento, perante o Infinito Bem...
 A essa altura, interrompeu-se a rogativa singular.
 Quase todos os presentes, inclusive o próprio Mestre, mostravam lágrimas nos olhos e,
 no alto, a Lua radiosa, em plenilúnio divino, fazendo incidir seus raios sobre a modesta vivenda
 de Simão, parecia clamar sem palavras que muitos homens poderiam viver esquecidos do Supremo
 Senhor; entretanto, o Pai de Infinita Bondade e de Perfeita Justiça, amoroso e reto, continuaria
 velando..."

 ("Jesus no Lar", Neio Lúcio/Francisco Cândido Xavier)
 

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