novas, quando Jesus narrou para a edificação de todos:
— Um homem, singularmente forte, que se especializara em variados serviços de reparação
e reajustamento, foi convidado por um anjo a consertar um aleijado que aspirava ao ingresso
no paraíso e aceitou a tarefa.
Avizinhou-se do enfermo, de martelo em punho, e, não obstante os gritos e lágrimas que
a sua obra arrancava do infeliz, aprimorando-o, dia a dia, cumpriu o prometido.
O mensageiro divino, satisfeito, rogou-lhe a contribuição no aperfeiçoamento de uma velha
coxa que desejava ardentemente a entrada na Corte Celeste.
O trabalhador robusto, indiferente aos gemidos da anciã, impôs-lhe a disciplina curativa
e, gradativamente, colocou-a em condições de subir às Esferas Sublimes.
O ministro do Alto, jubiloso, solicitou-lhe o concurso no refazimento de um homem chagado
e aflito que anelava a beatitude edênica.
O consertador não hesitou.
Absolutamente inacessível aos petitórios do infortunado, queimou-lhe as úlceras com atenção
e rigor, pondo-o em posição de elevar-se.
Terminada a tarefa, o anjo retornou e requisitou-lhe a cooperação em benefício de um
jovem perdido em maus costumes.
O restaurador tomou o rapaz à sua conta e deu-lhe trabalho e contenção, com tamanho
tirocínio, que, em tempo breve, a tarefa se fazia completa.
E, assim, o emissário de Cima pediu-lhe colaboração em diversos casos complexos de
reestruturação física e moral, até que, um dia, o emérito educador, entediado da existência
imperfeita na Terra, implorou ao administrador angélico a necessária permissão para seguir em
companhia dele, na direção do Céu.
O embaixador sublime revistou-o, minuciosamente, e informou que também ele devia
preparar-se com vistas ao grande cometimento; mostrou-lhe os pés irregulares, os braços deficientes
e os olhos defeituosos e rogou, dessa vez, reajustasse ele a si mesmo, a fim de elevarse.
O disciplinador começou a obra de auto-aprimoramento, esperançoso e otimista; entretanto,
o seu antigo martelo lhe feria agora tão rudemente a própria carne que ele, ao invés de
consertar os pés, os braços e os olhos, caiu a contorcer-se no chão, desditoso e revoltado, proferindo
blasfêmias e vomitando injúrias contra Deus e o mundo, quase paralítico e quase cego.
Ele mesmo não suportara o regime de salvação que aplicara aos outros e o próprio anjo
amigo, ao reencontrá-lo, com extrema dificuldade o identificou, tão diferente se achava.
Findo o longo exame a que submeteu o infortunado, o mensageiro do Eterno não teve
outro recurso senão confiá-lo a outros educadores para que o reajustamento necessário se fizesse,
com o mesmo rigor salutar com que funcionara para os outros, a fim de que o notável
consertador se aperfeiçoasse, convenientemente, para, então, ingressar no Paraíso.
Diante da estranheza que senhoreara o ânimo dos presentes, o Senhor concluiu:
— Usemos de paciência e amor em todas as obras de corrigenda e aprendamos a suportar
as medidas com que buscamos melhorar a posição daqueles que nos cercam, porque para
cada espírito chega sempre um momento em que deve ser burilado, com eficiência e segurança,
para a Luz Divina."
("Jesus no Lar", Neio Lúcio/ Francisco Cândido Xavier)
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